domingo, 4 de outubro de 2015

O SIGNIFICADO DE UMA FOTOGRAFIA


Foto reproduzida da Revista Ecológico, abril 2014

Quantas coisas nos lembramos a partir de uma única fotografia registrada numa ocasião especial?
Quanta saudade sentimos de pessoas, tempos, lugares ao rever fotos guardadas?
Quanta informação absorvemos a partir de imagens feitas de coisas, lugares e acontecimentos que jamais poderíamos imaginar?

Quantos sentimentos, ideias e significados uma fotografia pode representar?

Todas essas possibilidades são consequências do “poder”, que a fotografia tem de reter um instante, numa imagem.
Imagem, que pode se tornar uma informação, um documento, um acervo ou uma referência para a nossa lembrança – Uma foto é, sem dúvida, um objeto de memória seja ela particular ou coletiva.

A escritora Susan Sontag no livro Sobre Fotografia (1977) fala sobre essa intensidade da fotografia:

“Cada fotografia é um momento privilegiado convertido num pequeno objeto que se pode conservar e olhar repetidamente. ”“... testemunha a inexorável dissolução do tempo, precisamente por selecionar e fixar um determinado momento. ”“...invenção que permite o registro do que vai desaparecendo."

Provavelmente, essa seja a razão da emotividade e da magia, que envolvem as fotografias, o desejo de alcançar ou ter uma realidade - que já passou ou fantasiada.
Mas todas essas questões estão ligadas à nossa própria experiência, conhecimento e forma de ver o mundo. Nenhuma emoção será provocada se não houver um contexto, semelhança, entusiasmo ou história.

Isso não quer dizer que toda fotografia seja necessariamente um retrato fiel da realidade. Muitos significados podem ser construídos a partir de uma simples opção ou intenção do fotógrafo.

Essa fotografia de Carlos Drummond por exemplo, que serviu de modelo para a escultura instalada em Copacabana, conta um pouco da história do poeta... será?

Foto: Rogério Reis 1982 

Carlos Drummond sempre me comoveu e qualquer imagem em que ele aparece, me chama atenção, sinto uma certa familiaridade no seu semblante e é claro, adoro sua poesia.
Mas enfim, pesquisando sobre a foto, que deu origem à famosa escultura, tive uma grande surpresa e um ótimo exemplo para refletir sobre o poder de uma imagem.

A história, que a maioria das pessoas conhece sobre a escultura, é a de que Drummond, sempre frequentava aquele banco, onde contemplava Copacabana e escrevia poesias... Essa é a história contada pela fotografia inspiradora da obra, mas na verdade, não foi bem assim.

A fotografia de Rogério Reis serviu de modelo para a escultura e deu vida a uma história um pouco diferente da realidade, que na sua própria opinião, não representava bem a intimidade do poeta. O próprio fotógrafo confirmou “foi uma foto construída”. 

Segundo ele, Drummond morava em Copacabana, mas sempre caminhava na direção do Leblon. Como ele precisava de uma foto especial para a revista Veja, pediu ao poeta para fotografar ali mesmo. Drummond concordou e assim foi criada uma nova “realidade”, um pouco diferente dos costumes do poeta, mas que se tornou uma imagem emblemática na história da relação de Drummond com o Rio de Janeiro.


Por diversas razões, muitas vezes, o fotógrafo precisa criar um ambiente para fotografar e em alguns casos, é essa criação, que dá valor histórico à foto.
Mas, isso também representa um risco, claro.
Nesse caso a fotografia de Rogério Reis, que não retratava a realidade, assumiu um significado muito maior do que a intenção, no momento da foto.

Por Beth Faustina, Outubro de 2015
Studio3 Escola de Fotografia

Um comentário:

  1. Encontrei a história dessa foto no blog - A história bem na foto - do fotógrafo Aguinaldo Ramos.

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