segunda-feira, 9 de maio de 2016

O VALOR DE UM FOTÓGRAFO PROFISSIONAL OU "VOCÊ PODE ME ENTREGAR TODAS AS FOTOS?"


Grande parte dos fotógrafos se depara com essa pergunta, depois de uma sessão fotográfica bem sucedida: 

"As fotos estão ótimas, mas você pode me entregar todas, no caso de eu precisar delas no futuro? Não é preciso editar ou fazer nada com elas!”.


Se você quer uma resposta curta e objetiva, é “Não”.


Mas é importante, que as pessoas entendam o motivo pelo qual a resposta é essa.

Ao longo deste post, você vai ver, lado a lado, a título de comparação, fotos originais, sem tratamento e o mesmo arquivo depois de tratado.


Eu digo “não” a esse pedido, não porque seja ganancioso ou, simplesmente, porque quero dizer. Não é porque sou preguiçoso e não quero saber disso. Mas com certeza, não estou deixando de entregar ao cliente, aquela “foto fantástica”.

"Mas, qual é o problema?" –escuto dos clientes quando digo “Não”.

Aqui está uma explicação sucinta sobre o motivo pelo qual, isso não é tão simples.
As fotografias são, supostamente, para serem editadas. A resposta é "Não", mesmo!

Você deve estar familiarizado com os termos “RAW” e “JPEG” – são tipos de arquivos de imagem.
Basicamente, os arquivos JPEG são os que você utiliza para uploads no Facebook, Instagram ou para imprimir.
Os arquivos RAW contêm muito mais informação, incluindo uma quantidade, significativamente, maior de cor e textura, e mais detalhes nas áreas de sombra e altas luzes, mas para abri-los, é necessário um software específico.


Se o fotógrafo envia ao cliente arquivos originais em RAW, nada poderá ser feito com eles, sem executá-los num software adequado. E normalmente, os clientes não os têm, além de não saberem como utilizá-los.
Fotógrafos profissionais optam por fotografar em RAW porque acreditam que é melhor ter mais (dados digitais) do que menos, como em um JPEG.
As capturas em RAW, que saem diretamente da câmera, geralmente, apresentam um aspecto muito inferior às suas possibilidades – as fotos são “chapadas”, com pouco contraste e cores maçantes. Até que a foto seja tratada, o trabalho não está terminado.
Um fotógrafo, que captura em RAW pode ser comparado a um carpinteiro, que tem uma oficina cheia de madeira, ferramentas e materiais à sua disposição, para a construção de uma mesa, e a capacidade de criar o que quiser. Um JPEG é a compra de uma mesa na loja – goste ou não dela, não há nada, que o carpinteiro possa fazer sobre isso.

Minha edição e tratamento é parte do meu processo, o meu produto e meu estilo. É uma das razões pelas quais, o cliente me escolheu.
A maneira através da qual eu trato minhas fotos é um componente crucial da minha fotografia. Meu estilo como fotógrafo abrange vários aspectos como enquadramento, tempo e toda uma série de outras habilidades.
Mas a foto crua não é o produto acabado, na qual tenho orgulho de aplicar minha marca, até que tenha feito a edição e o tratamento – se você está fazendo a ceia de Natal, não vai tirar o assado do forno antes que esteja pronto e servir!

As imagens tratadas mostradas aqui, são as que quero que me representem como fotógrafo.
Esse é o tipo de trabalho, que está no meu site e é a qualidade que quero, que as pessoas esperem de mim.
Abaixo estão mais alguns exemplos comparativos de fotos em RAW , totalmente intocadas e meus tratamentos concluídos.



Eu venho selecionando fotos, desde que comprei minha primeira câmera e me tornei bom nisso.
Você nunca verá as fotografias, que não incluí nas seleções - as capturas borradas, as repetidas (meu Deus! Tantas repetidas!).
De qualquer foto apresentada, pode haver dezenas ou centenas, que são pequenas variações sobre o tema – todas piores, em face das que publiquei (olhos fechados, cabelo no rosto, talvez um cão, que tenha passado em frente à câmera, o que, realmente, aconteceu diversas vezes).

Passei muito tempo analisando todas elas, fazendo comparações, até selecionar as melhores.
Eu nunca terei duas fotos diferentes, igualmente boas, e entregarei ao cliente, apenas uma delas.

O processo de seleção consiste em reduzir, gradualmente, o excesso, buscando a alma das imagens, para que eu possa dar o que o cliente deseja: qualidade, fotos profissionais.
Ao final do trabalho, o cliente deseja imagens com qualidade profissional e minha missão é fornecê-las. “Qualidade profissional” significa fotografias, que traduzem com perfeição, a atmosfera do trabalho e isso, muitas vezes, inclui fotos que fogem da intenção inicial e que poderiam ser descartadas, como sorrisos entre poses, o registro de um momento de relaxamento ou uma careta – “qualidade profissional” não significa formalidade ou nenhuma diversão.

Você tem certeza de que estaria disposto a escolher uma imagem entre 5000 como essas acima?

Como o cliente confiará em minha seleção?

Contabilize milhares de horas, que tenho dedicado a observar imagens e a prestar muita atenção, no que torna uma foto boa ou não.

Minha capacidade de escolher as melhores imagens para determinado trabalho é um dos aspectos, que me leva a ser contratado pelos clientes.

Entregar 10.000 fotos medíocres demonstra falta de respeito com o tempo do cliente – dessa forma, ele estará fazendo o trabalho de seleção, que eu deveria fazer.
Isso não quer dizer, que os clientes nunca opinem durante o processo - alguns trabalhos exigem sua participação.

O que quero dizer é que, uma vez feita a seleção e esta, aprovada pelo cliente, é desnecessário que ele solicite o restante das fotos (que aliás, foram descartadas). Já houve um acordo.

Há sempre um acordo, um contrato firmado sobre o trabalho fotográfico, antes de se iniciar uma sessão e parte desse contrato diz respeito ao número de fotografias, que serão entregues (por vezes, uma quantidade específica e em outras, uma média, dependendo do projeto).
É responsabilidade do fotógrafo, ser claro a respeito disso.
É importante ressaltar, que o valor cobrado pelo fotógrafo leva em conta o número final de fotos, que serão entregues, assim como o uso/ licenciamento e o tempo gasto com a edição e tratamento. Entregar todas as fotos capturadas não é rápido, nem simples – isso significa mais gasto de tempo para o fotógrafo, o que normalmente, extrapola do que foi estabelecido anteriormente.

É óbvio, que imprevistos acontecem e que, às vezes, é necessário um número maior de fotos por uma razão ou outra. O cliente deve estar ciente de que pode haver um custo adicional para o processamento de mais imagens. Nesse caso, o mais simples a fazer é agir com transparência e estar sempre, em comunicação. Assim, tudo flui tranquilamente.

E como ficamos?

Minha esperança é que eu tenha alcançado alguns “não-fotógrafos”, que nunca pensaram no assunto por esse prisma, e que no futuro, ao tratar com um fotógrafo profissional, saibam disso. Será bom também, se atingir alguns companheiros fotógrafos, que possam utilizar minhas ideias em seus negócios.

Esse é um assunto complicado – ninguém quer decepcionar o outro, especialmente, quando esse está lhe pagando.

Comunique-se!

Problemas a respeito dessa questão, geralmente, podem ser tratados de forma simples, através de conversas objetiva e gentis, que deixem claras as expectativas de cada parte, antes da sessão fotográfica, quando os detalhes do projeto estão sendo tratados.

Eu nem sequer cito a possibilidade de entregar um arquivo em RAW.

Se uma empresa me contrata como fotógrafo, mas deseja – ela mesma – editar e processar as imagens, com a finalidade de manter seu estilo, buscarei uma forma de trabalhar com ela!

Mas, minha esperança é que se você estiver lendo meu texto e vai contratar um fotógrafo no futuro – talvez, até eu mesmo! – que você compreenda de forma mais profunda, o ponto de vista dos fotógrafos. Espero que você entenda, que estamos dizendo “Não”, por uma razão relevante e não, porque somos idiotas.

Contrate um fotógrafo cujo trabalho te agrada, no qual você confia e acredite no seu processo de trabalho.

Tradução adaptada do artigo de Caleb Kerr  para o site Peta Pixel

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