terça-feira, 27 de novembro de 2018

CANON LANÇA SUA PRIMEIRA MIRRORLESS - A EOS R

Em nosso Curso de Fotografia em BH, procuramos informar e esclarecer dúvidas sobre qualquer tema que os alunos nos tragam e as questões técnicas e de equipamentos são sempre discutidas.
Desta vez, o assunto é o lançamento da Canon mirrorless, que tem encantado os futuros fotógrafos profissionais e hobbistas.

Canon anuncia a EOS R - sua primeira câmera Mirrorless Full-Frame
A Canon divulgou oficialmente a nova EOS R, a primeira concorrente sem espelho da empresa. O anúncio foi feito apenas duas semanas após a Nikon ter divulgado seu primeiro sistema full-frame mirrorless, o Z series.


A câmera apresenta um novo sistema de montagem de lentes - o RF - que a Canon diz ser “revolucionário”.

A montagem RF possui um diâmetro interno de 54 mm, o mesmo que o EF, mas tem uma distância focal de flange mais curta, de 20 mm, permitindo que as lentes sejam mais simples e opticamente superiores.
O sistema RF usa 12 contatos elétricos para uma comunicação mais super rápida entre os corpos das câmeras e as lentes.

A montagem é “o equilíbrio perfeito da excelência em engenharia óptica, mecânica e eletrônica, permitindo designs inovadores nas lente full frame, autofoco mais rápido e comunicação de alta velocidade entre a câmera e a lente”, afirma a Canon.

A Canon está projetando uma nova linha de lentes RF, específicas para esse novo sistema mirrorless, mas toda a linha de lentes EF, EF-S, TS-E e MP-E é compatível com a câmera, se o usuário utilizar o adaptador EF-EOS R.


Além do adaptador standard, a Canon também criou um adaptador de montagem de filtro drop-in para adicionar funcionalidades adicionais (por exemplo, filtros e um anel de controle personalizável) ao adaptar as lentes.

O adaptador para montagem de filtro é disponibilizado juntamente com filtros de densidade neutra (V-ND) ou um filtro polarizador circular (C-PL). Um terceiro filtro (CL) também está disponível, caso o usuário não queira efeitos.

O adaptador de montagem do filtro drop-in EF-EOS R com os filtros V-ND (esquerda) e C-PL (direita).

O coração da EOS R guarda um sensor CMOS full- frame de 30,3 megapixels, com variação de ISO que vai de 100 a 40000, expansível para 50 a 102400, equipado com o processador DIGIC 8. Na frente do sensor há um filtro low-pass, auxiliando na eliminação do moiré, o que sacrifica um pouco a nitidez das imagens. A câmera oferece uma velocidade de disparo contínuo de 8 qps - para disparos de até 100 JPEGs em qualidade máxima, 47 RAW ou 78 C-RAW. O delay do obturador é de apenas 50 milissegundos e tempo de inicialização de 0,9 segundos.
O sistema de foco automático da câmara tem 5.655 pontos de AF, utilizando o sistema de detecção de fase Dual Pixel CMOS AF da Canon. O AF funciona até f / 11 e possui um sistema de medição em tempo real de 384 zonas (24 × 16), funcionando bem em situações de luz deficiente, graças à sua faixa de operação de EV -6 a 18 - a sensibilidade do AF de EV -6 exige lentes f / 1.2.

O sistema AF atinge o foco em apenas 0,05 segundos, quando a câmera está equipada com a nova lente RF 24-105mm f / 4L IS, que é atualmente, a velocidade de autofoco mais rápida do mundo, diz a Canon.

A câmera apresenta outros recursos de foco, que incluem o foco “touch and drag” e o foco “Peaking”.

Os silenciosos disparos no modo “disparo único” permitem que os fotógrafos se mantenham discretos enquanto trabalham – o recurso não está disponível no modo de disparo contínuo, mas será implementado no futuro, após uma atualização do firmware.

A parte superior da EOS R é construída com liga de magnésio, resistente a poeira e intempéries, e apresentar um display de ótimas dimensões.

Na parte de trás da câmera há um visor eletrônico OLED de 3,69 milhões de pontos com uma cobertura de, aproximadamente, 100% e uma ampliação de 0,71x.
Abaixo do viewfinder eletrônico, há um monitor LCD Touchscreen Vari-angle de 3,15 polegadas e 2,1 milhões de pontos.

Acima da tela LCD e à direita do EVF há um novo recurso, inspirado no recente laptop da Apple – uma nova barra multifuncional.

Esta barra de toque permite que os fotógrafos acessem rapidamente as configurações personalizáveis ​, tais como o foco automático, ISO e balanço de branco. O usuário pode tocar e deslizar o dedo pela barra para acessar as configurações e ajustá-las.


Veja aqui um vídeo de 7 minutos mostrando como o anel de controle da lente e a barra multifuncional da câmera funciona no sistema EOS R.


Em relação à utilização do flash fora da câmera, a EOS R é compatível com a linha EX de Speedlites da Canon e realiza medição E-TTL II. A Canon anunciou um novo Speedlite, o EL-100, juntamente com a EOS R. O EL-100 tem cabeça giratória, número guia máximo de 85 pés/ 26m em ISO 100, cobertura em grande angular de 24mm, wireless óptico, controle de exposição do flash e um dial de modo na posição AUTO.



Nas funcionalidades de vídeo, a EOS R filma em 4K, a 30fps e 1080p, a 60fps com o Canon Log (12 pontos de faixa dinâmica), 10bit 4: 2: 2 saída HDMI, e um tempo máximo de gravação de 29 minutos e 59 segundos . A lateral da câmera tem conectores de microfone e fone de ouvido. 
Tal como a Nikon e sua Z6, a Canon decidiu colocar um único slot para cartões de memória na EOS R. Ao contrário da Z6, que utiliza cartões XQD, a EOS R utiliza cartões de memória SD / SDHC / SDXC. A Nikon está de olho no futuro dos cartões de memória (e na transição do XQD para o CFexpress), enquanto a Canon permite que seus usuários de DSLR adotem a EOS R com sua coleção atual de cartões SD e leitores.

Outros recursos e especificações da EOS R: autolimpeza do sensor, limpeza de poeira, AF com detecção de face, Wi-Fi, Bluetooth, terminal USB 3.1, compatibilidade com bateria LP-E6N ( até 560 fotos por carga), carregamento via USB, faixa de temperatura de trabalho de 0–40 ° C (32–104 ° F), faixa de trabalho em ambientes úmidos de 85% ou menos, dimensões físicas de 5,35 × 3,87 × 3,32 pol (135,8 × 98,3 × 84,4 mm) e um peso de 1,28 lb (580 g).


Veja uma comparação entre a EOS R e a DSLR 5D Mark IV:


A Canon anunciou, que está desenvolvendo dois modelos diferentes de câmeras full-frame mirrorless. Enquanto a Nikon lançou suas câmeras high-end e low-end (a Z7 e Z6, respectivamente) ao mesmo tempo, a Canon afirma estar guardando sua câmera profissional para uma apresentação exclusiva, mais tarde. A EOS R seria, portanto, uma concorrente direta das Nikon Z6 e a Sony a7 III.

A Canon anunciou quatro lentes RF iniciais que serão lançadas com a EOS R: a Macro STM RF 35mm f / 1.8 IS, a RF 50mm f / 1.2L USM, a RF 24-105 mm f / 4L IS USM e a RF 28-70mm f / 2L USM.


Aqui está a descrição de cada lente, segundo a Canon:


RF 35 mm f / 1,8 IS Macro STM
“Uma lente macro de 35mm f / 1.8 de abertura, oferecendo uma perspectiva naturalmente grande angular e focagem a uma distância mínima, é uma ótima lente para a criatividade do dia a dia, onde a flexibilidade é a chave.”


RF 50 mm f / 1,2 L USM
“Estabelecendo novos padrões de qualidade e velocidade ópticas, esta lente prime de 50mm f / 1.2 oferece alta nitidez, além de notável desempenho sob luz deficiente.”


RF 24-105 mm f / 4L IS USM
“Com tecnologia Nano USM, rápida e silenciosa, esta 24-105mm f / 4 oferece aos fotógrafos e cineastas uma lente pequena e leve de uso geral com 5 pontos de estabilização de imagem.”

RF 28-70 mm f / 2L USM.
“Uma lente 28-70mm f / 2 que oferece a qualidade de imagem esperada das lentes prime. Com uma abertura f/ 2 , super rápida e brilhante em toda a faixa de zoom, ela proporciona resultados impressionantes em pouca luz. ”

Aqui está um vídeo de 4 minutos sobre as lentes RF:

Segundo o respeitado portal DPreview, a conclusão:

"Com um sensor de 30MP, fantástica reprodução de cores e autofoco no sensor, a EOS R é capaaz de produzir algumas belas fotografias com foco super preciso. Mas é a primeira câmera full-frame mirrorless da Canon e, de muitas maneiras, isto fica evidente. A ergonomia parece inacabada e, com o mesmo ou menos dinheiro, é possível encontrar outra câmera, que entregue um vídeo de melhor qualidade, um alcance mais dinâmico e velocidades de disparo mais rápidas. Mas temos que admitir que as novas lentes RF da Canon são simplesmente, espetaculares e, neste momento, a EOS R é a única maneira de usá-las.

Boa para: Fotografia geral e social, vídeos casuais e para aqueles que procuram um corpo de backup para sua full-frame da Canon ou estão montando uma nova coleção de lentes RF.


Não é tão boa para: Aqueles que querem fotografar esportes ou assuntos em movimento rápido; aqueles que precisam da melhor qualidade de imagem para trabalhos em paisagens ou vídeos."


Preços e Disponibilidade

A Canon EOS R está disponível desde Outubro de 2018 pelo valor de US $ 2.299 (somente o corpo) - em comparação, a Nikon Z6 custa US $ 1.997 e a Sony a7 III custa US $ 1.998. O kit montado com a lente de 24-105mm sai por US $ 3.399.

O adaptador de montagem Canon EF-EOS R e o adaptador de montagem para anel de controle EF-EOS R estão, também disponíveis com preços de US $ 100 e US $ 200, respectivamente. O adaptador de montagem de filtro drop-in O EF-EOS R chegará às lojas em fevereiro de 2019 com um preço de US $ 400 com o filtro ND ou US $ 300 com o filtro de polarizador circular.

O Canon EL-100 Speedlite já está sendo comercializado por US $ 200.

A objetiva RF 50mm f / 1.2L custa US $ 2.299 . A RF 35mm f / 1.8 IS Macro, RF 24-105 mm f / 4L IS e RF 28-70mm f / 2L começarão a ser entregues às lojas em dezembro de 2018 com de preços de US $ 499, US $ 1.099 e US $ 2.999, respectivamente.

Tradução livre: Andreia Bueno

domingo, 4 de novembro de 2018

A MANIPULAÇÃO DE IMAGENS ANTES DA ERA DAS FAKE NEWS

Em nosso curso de fotografia em BH, estamos sempre estimulando os alunos a ampliarem seu repertório cultural, a fim de que possam enriquecer a criação de suas imagens.
Assim, iniciamos hoje, uma série de publicações, abordando fotos memoráveis, seus contextos e autores.

Neste texto, vamos explorar uma das fotos mais icônicas da história - A Bandeira Vermelha sobre o Reichstag.
Em tempos de uma enxurrada de fake news, poderíamos pensar que a internet e o Photoshop seriam, em boa parte, responsáveis.

Mas a manipulação de imagens não é procedimento recente – antes do surgimento da fotografia digital e dos softwares de edição e tratamento, delicadas técnicas manuais eram utilizadas para que a fotografia servisse aos objetivos do fotógrafo e da mídia. Uma das mais famosas imagens da tomada de Berlim pelos soldados soviéticos,durante a Segunda Grande Guerra feita pelo fotógrafo Yevgeny Khaldei, é a confirmação.

"A Bandeira Vermelha sobre o Reichstag" - Yevgeny Khaldei


Muitas vezes chamado de “Robert Capa Russo”, o fotógrafo ucraniano Yevgeny Khaldei (1917 – 1997) trabalhou para a Agência de Telégrafos da União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial e suas poderosas imagens do avanço do Exército Vermelho, através dos campos de batalha europeus, ajudaram a consagrá-lo como o mais famoso fotógrafo de guerra da Rússia. Sua imagem dos soldados soviéticos hasteando a bandeira nacional no alto do Reichstag em ruínas, comemora o momento em que as forças soviéticas tomaram o prédio, em 30 de Abril de 1945, durante a Batalha de Berlim.


Apesar da imensa repercussão e do peso histórico atribuído à imagem, ela não é – literalmente – expressão da realidade. A cena foi produzida por Khaldei na manhã do dia 02 de Maio de 1945, dias após o acontecimento. Como ninguém havia fotografado o hasteamento da bandeira, o fotógrafo identificou a oportunidade de criar uma obra prima, possivelmente, comparável à “A Old Glory” de Joe Rosenthal, feita naquele mesmo ano.

"A Old Glory" - Joe Rosenthal

Yevgeny Khaldei almejava mais do que criar uma foto famosa, icônica, para alimentar sua fama – comunista assumido e fiel à sua terra natal, percebeu o peso e o apelo dramático, que aquela imagem teria para seu de seu povo: ela era a verdadeira representação da esmagadora vitória da União Soviética sobre os nazistas. Aquela fotografia, distribuída, divulgada e vista por milhares de pessoas, era a vingança de mais de 30 milhões de combatentes, que perderam suas vidas na Frente Oriental.

Na verdade, o comandante nazista havia se rendido poucas horas antes de Khaldei reconstruir o instante da vitória, tendo subido no edifício, acompanhado de alguns companheiros, com sua Leica – o fotógrafo usou um único rolo de filme, expôs 36 fotogramas e editou as imagens várias vezes, buscando a dramaticidade e a narrativa, que com certeza, agradaria os censores soviéticos.

Quando a foto foi impressa pela primeira vez na revista sindical "Ogonjok" em 13 de maio de 1945, houve a manipulação de um detalhe na foto: na verdade, o soldado do Exército Vermelho, que estava apoiando os companheiros, usava dois relógios, sendo um em cada braço. A história aponta que os relógios tinham um significado especial para os soviéticos, como se fossem troféus - sobreviventes relatam que, quando o Exército Vermelho tomou Berlim, exigia aos alemães: "Uri, uri!" ("Relógios, relógios!"). Conclui-se, que o relógio extra havia sido roubado dos alemães e não seria de bom tom para a imagem soviética, expor um soldado usando artigos roubados. A manipulação também tinha a intenção de proteger o soldado da ira de Stalin, que era contra a pilhagem.

Khaldei admitiu mais tarde, que arranhou um dos negativos, fazendo desaparecer o relógio do braço direito do “soldado”, com uma agulha.
Primeira foto da série "A Bandeira Vermelha sobre o Reichstag" publicada - Yevgeny Khaldei


Foi depois, divulgada uma nova versão da foto, onde nuvens escuras de fumaça aparecem no céu, levando os espectadores a pensar, que a imagem havia sido captada logo após a vitória dos soviéticos. Na última versão, uma nova bandeira aparece, agitando-se dramaticamente, ao vento. 

Pelo menos três outros fotógrafos militares soviéticos tenham fotografado soldados com bandeiras em 1 e 2 de maio de 1945 no Reichstag, a imagem de Khaldei prevaleceu. Mais tarde, numa entrevista, quando questionado sobre as manipulações, ele apenas respondeu: "É uma boa foto e historicamente significativa. A próxima pergunta, por favor”.

Embora as imagens de Khaldei tenham sido muito elogiadas na época, foram publicadas sem créditos.
Apenas após a queda do Muro de Berlim, o crédito de autor e o reconhecimento lhe foram dados.

Três anos depois de voltar da guerra, em 1948, Khaldei foi demitido da Tass, vítima de uma das periódicas ondas de anti-semitismo, que varriam os órgãos oficiais soviéticos. Mais tarde, passou a integrar a equipe do Pravda, o jornal do Partido Comunista, para ser novamente despedido, novamente por ser judeu, em 1972. Desde então, sobreviveu como pôde, sempre fotografando, até 1991, quando afinal se aposentou, já na Rússia pós-comunismo.

Khaldei viveu em um apartamento no 6º andar de um prédio simples em Moscou, em que o único cômodo servia de sala, quarto, escritório, laboratório e arquivo de negativos de sessenta anos de fotografia.
Yevgeny Khaldei faleceu em Moscou, em 6 de outubro de 1997, aos 80 anos.



A BANDEIRA FALSA, O RELÓGIO ESCONDIDO, AS NUVENS INVENTADAS 


A Fumaça – Duas colunas de fumaça ao fundo da cena sugerem, que a sangrenta Batalha de Berlim ainda estava ocorrendo no momento da foto. Na imagem original, a fumaça vista à distância é bem fraca. Khaldei editou a imagem copiando a fumaça de outra tomada, para aumentar a dramaticidade. 

O Reichstag – O edifício do século XIX foi importante na história alemã como sede do parlamento, tendo sido usado no Terceiro Reich com finalidades de propaganda e militares. 

Os Soldados – Em 13 de Maio, quando a imagem foi publicada, foi divulgado que os soldados eram Mikhail Yegorov e – para fazer a felicidade de Stalin, que havia nascido na Georgia – um georgiano chamado Meliton Kantaria. Depois do fim da Guerra Fria, veio à tona que o homem hasteando a bandeira era, na verdade, um ucraniano, Alyosha Kovalyov. 

A Bandeira – Khaldei pretendia criar uma imagem icônica, mas não tinha uma bandeira. Persitindo na ideia, voou até Moscou onde conseguiu três toalhas vermelhas utilizadas em funções oficiais. Passou a noite costurando nelas, a foice e o martelo, antes de voar de volta à Berlim para a foto. 

Os Relógios – durante as batalhas, os relógios tinham um significado especial para os soviéticos. Eles os consideravam como troféus, indicando vitória. A história relata, que quando os soldados vermelhos tomaram Berlim, gritavam “Uri, uri!”, reclamando os relógios dos derrotados. A primeira foto publicada da série mostrava três homens, que representavam os soldados soviéticos comemorando a vitória, hasteando a bandeira – um deles usava dois relógios, um em cada braço, o que indicaria o roubo de pelo menos, um. Khaldei, protegendo a imagem dos soldados soviéticos, apagou um deles no negativo, usando uma agulha.


Novembro . 2018