sábado, 22 de dezembro de 2018

COMO FAZER FOTOS INCRÍVEIS DAS LUZES DE NATAL

A iluminação de Natal, raramente, fica tão linda nas fotografias, quanto a que vemos com nossos próprios olhos, mas isso não nos impede de fazer fazer belas imagens.
Se você quer fotografar sua própria decoração natalina ou registrar as luzes da cidade, siga as dicas a seguir, que costumamos dar em nosso curso de fotografia em BH.

A Melhor Hora para Fotografar

O erro mais comum, que as pessoas cometem ao fotografar as luzes natalinas, é esperar que anoiteça. Quando não há mais nenhuma luz natural, as luzes do Natal parecem flutuar num fundo, absolutamente, negro.

A melhor hora para fotografar é ao entardecer, quando a luz natural é brilhante o suficiente para iluminar as bordas de edifícios e das árvores, mas não tão brilhante, que se sobreponha às luzes artificiais. Se você fotografar numa grande cidade, poderá fazê-lo mais tarde em virtude da poluição luminosa, mas o céu não estará mais azul, o que enriqueceria bastante as imagens.

Quando Usar o Flash

Iluminação cênica e flash dedicado, normalmente, não se misturam - a luz do flash torna a cena plana e desinteressante, além de “abafar” o brilho suave das luzes de Natal.

Mas há uma exceção a esta regra: quando se deseja capturar uma pessoa ou determinado objeto em primeiro plano. É possível utilizar o flash para iluminar, apenas, o assunto, mantendo a velocidade do obturador lenta o suficiente para capturar as luzes de Natal brilhando ao fundo.
Em nosso Curso Flash Dedicado explicamos, detalhadamente, como configurar o flash para diversas aplicações.
Corrie Lindroos Photography
Se a intenção é fazer um retrato indoor, em frente a arvore de Natal, sugerimos que uma lâmpada ou lanterna seja utilizada para iluminar o assunto em lugar de um flash, a fim de não exceder na quantidade de luz. Assim é possível manter a atmosfera do ambiente.

Trazer Detalhes das Áreas Escuras 

Fotografar as luzes de Natal em ambientes internos pode ser difícil, pois elas não são potentes o suficiente, para iluminar o entorno.
Isso significa, que podemos obter uma bela imagem das luzes da árvore de Natal, mas todo o restante da imagem estará escuro, sem informações visuais.

Para obter uma fotografia mais equilibrada, experimente posicionar outras fontes de luz no ambiente, fora do quadro, para adicionar mais iluminação ambiente à cena. Esconder uma lâmpada atrás da árvore também conferirá profundidade à imagem e servirá de luz de recorte, destacando seu volume.

Tripé é Essencial
Carregar o tripé pode ser desconfortável, mas usá-lo melhora, significativamente, as fotografias.

Cenas com iluminação deficiente exigem velocidades baixas do obturador e qualquer uma abaixo de 1/60 seg pode produzir imagens borradas, se a foto for feita com a câmera nas mãos, sem apoio.
Para fotografar as luzes de Natal, o ideal é que sejam utilizadas velocidades entre 1 seg e 1/60 seg, dependendo da abertura do diafragma e das outras variáveis.
Para obter qualidade máxima nas imagens, utilize um tripé leve, com uma cabeça flexível e robusto o suficiente para suportar o peso de sua câmera.

Não se esqueça de desligar o estabilizador de imagem de sua objetiva – caso possua – se você estiver usando o tripé. Mantê-lo ligado provocará borrões em suas imagens.

Fotografe em Modo Manual e Use um ISO Baixo

A menos que você tenha esquecido seu tripé e precise segurar a câmera na mão, o ideal é não utilizar ISO alto, evitando ocorrência de ruído, mais evidente nas áreas escuras das imagens.
Para maior definição, mantenha a configuração ISO abaixo de 400 ao fotografar as luzes de Natal.

Escolha Manualmente a Melhor Velocidade do Obturador 

O segredo para obter belas fotos de iluminação natalina é escolher uma velocidade de obturador, que produza o equilíbrio certo entre as altas luzes e as sombras. Se a velocidade do obturador for muito alta, você poderá perder detalhes nas áreas de sombra da imagem. Se a velocidade do obturador for muito lenta, as luzes de Natal ficarão apagadas e o céu pode adquirir o mesmo aspecto da luz do dia.
Para encontrar a exposição perfeita, sugerimos fotografar no modo manual e experimentar várias velocidades de obturador.

Escolha o White Balance Correto

O White Balance que você escolher - ou o que sua câmera definir, se você estiver usando o balanço de branco automático - pode alterar, significativamente, a aparência de suas imagens. A iluminação natalina contém, geralmente, uma mistura de luzes brancas, azuis, vermelhas, verdes ou até mesmo faixas multicoloridas do espectro. Aproveite e experimente todas as configurações de white balance disponíveis em sua câmera, para definir qual delas atende melhor sua intenção.

Se você está fotografando ao entardecer e deseja que o céu assuma um tom de azul mais vibrante, use a configuração WB para luz de tungstênio.

No Momento do Disparo

Mesmo quando utilizamos tripé, ainda há possibilidade de balançar a câmera quando pressionamos o botão de disparo. Uma boa solução é fazer uso de um disparador a cabo, um controle remoto sem fio ou o temporizador da câmera. Configurar o temporizador da câmera para disparo em 5 seg é suficiente para evitar vibrações.


Enquadramento

Enquadre toda a cena pretendida, mas inclua espaços negativos e quando for possível, superfícies reflexivas – água, poças ou mesmo um espelho, que possam refletir as luzes de Natal. Seja criativo, usando acessórios inusitados.
Para luzes que piscam, certifique-se de usar uma velocidade de obturador suficiente para capturar todo o ciclo da luz.

Aproveite o Bokeh

Nem sempre as luzes de Natal precisam estar, totalmente, nítidas na imagem.
Às vezes, desfocá-las produz um belo bokeh, conferindo à foto uma atmosfera de sonho. Existem várias formas de incluir um bokeh na imagem - podemos manter o foco num elemento em primeiro plano e desfocar o fundo ou desfocar toda a cena.
Para isso, é preciso utilizar uma lente com abertura máxima ampla, que possibilite uma pequena profundidade de campo.
De qualquer forma, você terá uma bela foto.

Fotografe em RAW

O formato ideal para se fotografar a iluminação natalina é RAW, utilizando uma câmera DSLR ou mirrorless – as imagens terão, não só qualidade superior, mas você terá também, mais flexibilidade na pós produção, destacando e valorizando os detalhes através dos softwares de tratamento, como o Lightroom e o Photoshop.

Esta possibilidade é, especialmente, importante no caso das luzes do Natal, já que as fotos tendem a apresentar sombras profundas e pontos de luz estourados.

Lightpainting

Lightpaiting é uma técnica fácil e divertida de enriquecer as fotos. É possível iluminar objetos específicos com uma lanterna, escrever no ar as palavras "Feliz Natal" ou criar rastros com pincéis de luz.
Para garantir que você não apareça nas fotos, use roupa escura e tente não se iluminar com a lanterna. Lembre-se de usar uma velocidade do obturador lenta o suficiente, para permitir que você interfira na cena.

Seja Criativo
Existem infinitas formas de fotografar as luzes natalinas – experimente, quebre regras e crie imagens únicas.


Andreia Bueno . Dezembro 2018

terça-feira, 27 de novembro de 2018

CANON LANÇA SUA PRIMEIRA MIRRORLESS - A EOS R

Em nosso Curso de Fotografia em BH, procuramos informar e esclarecer dúvidas sobre qualquer tema que os alunos nos tragam e as questões técnicas e de equipamentos são sempre discutidas.
Desta vez, o assunto é o lançamento da Canon mirrorless, que tem encantado os futuros fotógrafos profissionais e hobbistas.

Canon anuncia a EOS R - sua primeira câmera Mirrorless Full-Frame
A Canon divulgou oficialmente a nova EOS R, a primeira concorrente sem espelho da empresa. O anúncio foi feito apenas duas semanas após a Nikon ter divulgado seu primeiro sistema full-frame mirrorless, o Z series.


A câmera apresenta um novo sistema de montagem de lentes - o RF - que a Canon diz ser “revolucionário”.

A montagem RF possui um diâmetro interno de 54 mm, o mesmo que o EF, mas tem uma distância focal de flange mais curta, de 20 mm, permitindo que as lentes sejam mais simples e opticamente superiores.
O sistema RF usa 12 contatos elétricos para uma comunicação mais super rápida entre os corpos das câmeras e as lentes.

A montagem é “o equilíbrio perfeito da excelência em engenharia óptica, mecânica e eletrônica, permitindo designs inovadores nas lente full frame, autofoco mais rápido e comunicação de alta velocidade entre a câmera e a lente”, afirma a Canon.

A Canon está projetando uma nova linha de lentes RF, específicas para esse novo sistema mirrorless, mas toda a linha de lentes EF, EF-S, TS-E e MP-E é compatível com a câmera, se o usuário utilizar o adaptador EF-EOS R.


Além do adaptador standard, a Canon também criou um adaptador de montagem de filtro drop-in para adicionar funcionalidades adicionais (por exemplo, filtros e um anel de controle personalizável) ao adaptar as lentes.

O adaptador para montagem de filtro é disponibilizado juntamente com filtros de densidade neutra (V-ND) ou um filtro polarizador circular (C-PL). Um terceiro filtro (CL) também está disponível, caso o usuário não queira efeitos.

O adaptador de montagem do filtro drop-in EF-EOS R com os filtros V-ND (esquerda) e C-PL (direita).

O coração da EOS R guarda um sensor CMOS full- frame de 30,3 megapixels, com variação de ISO que vai de 100 a 40000, expansível para 50 a 102400, equipado com o processador DIGIC 8. Na frente do sensor há um filtro low-pass, auxiliando na eliminação do moiré, o que sacrifica um pouco a nitidez das imagens. A câmera oferece uma velocidade de disparo contínuo de 8 qps - para disparos de até 100 JPEGs em qualidade máxima, 47 RAW ou 78 C-RAW. O delay do obturador é de apenas 50 milissegundos e tempo de inicialização de 0,9 segundos.
O sistema de foco automático da câmara tem 5.655 pontos de AF, utilizando o sistema de detecção de fase Dual Pixel CMOS AF da Canon. O AF funciona até f / 11 e possui um sistema de medição em tempo real de 384 zonas (24 × 16), funcionando bem em situações de luz deficiente, graças à sua faixa de operação de EV -6 a 18 - a sensibilidade do AF de EV -6 exige lentes f / 1.2.

O sistema AF atinge o foco em apenas 0,05 segundos, quando a câmera está equipada com a nova lente RF 24-105mm f / 4L IS, que é atualmente, a velocidade de autofoco mais rápida do mundo, diz a Canon.

A câmera apresenta outros recursos de foco, que incluem o foco “touch and drag” e o foco “Peaking”.

Os silenciosos disparos no modo “disparo único” permitem que os fotógrafos se mantenham discretos enquanto trabalham – o recurso não está disponível no modo de disparo contínuo, mas será implementado no futuro, após uma atualização do firmware.

A parte superior da EOS R é construída com liga de magnésio, resistente a poeira e intempéries, e apresentar um display de ótimas dimensões.

Na parte de trás da câmera há um visor eletrônico OLED de 3,69 milhões de pontos com uma cobertura de, aproximadamente, 100% e uma ampliação de 0,71x.
Abaixo do viewfinder eletrônico, há um monitor LCD Touchscreen Vari-angle de 3,15 polegadas e 2,1 milhões de pontos.

Acima da tela LCD e à direita do EVF há um novo recurso, inspirado no recente laptop da Apple – uma nova barra multifuncional.

Esta barra de toque permite que os fotógrafos acessem rapidamente as configurações personalizáveis ​, tais como o foco automático, ISO e balanço de branco. O usuário pode tocar e deslizar o dedo pela barra para acessar as configurações e ajustá-las.


Veja aqui um vídeo de 7 minutos mostrando como o anel de controle da lente e a barra multifuncional da câmera funciona no sistema EOS R.


Em relação à utilização do flash fora da câmera, a EOS R é compatível com a linha EX de Speedlites da Canon e realiza medição E-TTL II. A Canon anunciou um novo Speedlite, o EL-100, juntamente com a EOS R. O EL-100 tem cabeça giratória, número guia máximo de 85 pés/ 26m em ISO 100, cobertura em grande angular de 24mm, wireless óptico, controle de exposição do flash e um dial de modo na posição AUTO.



Nas funcionalidades de vídeo, a EOS R filma em 4K, a 30fps e 1080p, a 60fps com o Canon Log (12 pontos de faixa dinâmica), 10bit 4: 2: 2 saída HDMI, e um tempo máximo de gravação de 29 minutos e 59 segundos . A lateral da câmera tem conectores de microfone e fone de ouvido. 
Tal como a Nikon e sua Z6, a Canon decidiu colocar um único slot para cartões de memória na EOS R. Ao contrário da Z6, que utiliza cartões XQD, a EOS R utiliza cartões de memória SD / SDHC / SDXC. A Nikon está de olho no futuro dos cartões de memória (e na transição do XQD para o CFexpress), enquanto a Canon permite que seus usuários de DSLR adotem a EOS R com sua coleção atual de cartões SD e leitores.

Outros recursos e especificações da EOS R: autolimpeza do sensor, limpeza de poeira, AF com detecção de face, Wi-Fi, Bluetooth, terminal USB 3.1, compatibilidade com bateria LP-E6N ( até 560 fotos por carga), carregamento via USB, faixa de temperatura de trabalho de 0–40 ° C (32–104 ° F), faixa de trabalho em ambientes úmidos de 85% ou menos, dimensões físicas de 5,35 × 3,87 × 3,32 pol (135,8 × 98,3 × 84,4 mm) e um peso de 1,28 lb (580 g).


Veja uma comparação entre a EOS R e a DSLR 5D Mark IV:


A Canon anunciou, que está desenvolvendo dois modelos diferentes de câmeras full-frame mirrorless. Enquanto a Nikon lançou suas câmeras high-end e low-end (a Z7 e Z6, respectivamente) ao mesmo tempo, a Canon afirma estar guardando sua câmera profissional para uma apresentação exclusiva, mais tarde. A EOS R seria, portanto, uma concorrente direta das Nikon Z6 e a Sony a7 III.

A Canon anunciou quatro lentes RF iniciais que serão lançadas com a EOS R: a Macro STM RF 35mm f / 1.8 IS, a RF 50mm f / 1.2L USM, a RF 24-105 mm f / 4L IS USM e a RF 28-70mm f / 2L USM.


Aqui está a descrição de cada lente, segundo a Canon:


RF 35 mm f / 1,8 IS Macro STM
“Uma lente macro de 35mm f / 1.8 de abertura, oferecendo uma perspectiva naturalmente grande angular e focagem a uma distância mínima, é uma ótima lente para a criatividade do dia a dia, onde a flexibilidade é a chave.”


RF 50 mm f / 1,2 L USM
“Estabelecendo novos padrões de qualidade e velocidade ópticas, esta lente prime de 50mm f / 1.2 oferece alta nitidez, além de notável desempenho sob luz deficiente.”


RF 24-105 mm f / 4L IS USM
“Com tecnologia Nano USM, rápida e silenciosa, esta 24-105mm f / 4 oferece aos fotógrafos e cineastas uma lente pequena e leve de uso geral com 5 pontos de estabilização de imagem.”

RF 28-70 mm f / 2L USM.
“Uma lente 28-70mm f / 2 que oferece a qualidade de imagem esperada das lentes prime. Com uma abertura f/ 2 , super rápida e brilhante em toda a faixa de zoom, ela proporciona resultados impressionantes em pouca luz. ”

Aqui está um vídeo de 4 minutos sobre as lentes RF:

Segundo o respeitado portal DPreview, a conclusão:

"Com um sensor de 30MP, fantástica reprodução de cores e autofoco no sensor, a EOS R é capaaz de produzir algumas belas fotografias com foco super preciso. Mas é a primeira câmera full-frame mirrorless da Canon e, de muitas maneiras, isto fica evidente. A ergonomia parece inacabada e, com o mesmo ou menos dinheiro, é possível encontrar outra câmera, que entregue um vídeo de melhor qualidade, um alcance mais dinâmico e velocidades de disparo mais rápidas. Mas temos que admitir que as novas lentes RF da Canon são simplesmente, espetaculares e, neste momento, a EOS R é a única maneira de usá-las.

Boa para: Fotografia geral e social, vídeos casuais e para aqueles que procuram um corpo de backup para sua full-frame da Canon ou estão montando uma nova coleção de lentes RF.


Não é tão boa para: Aqueles que querem fotografar esportes ou assuntos em movimento rápido; aqueles que precisam da melhor qualidade de imagem para trabalhos em paisagens ou vídeos."


Preços e Disponibilidade

A Canon EOS R está disponível desde Outubro de 2018 pelo valor de US $ 2.299 (somente o corpo) - em comparação, a Nikon Z6 custa US $ 1.997 e a Sony a7 III custa US $ 1.998. O kit montado com a lente de 24-105mm sai por US $ 3.399.

O adaptador de montagem Canon EF-EOS R e o adaptador de montagem para anel de controle EF-EOS R estão, também disponíveis com preços de US $ 100 e US $ 200, respectivamente. O adaptador de montagem de filtro drop-in O EF-EOS R chegará às lojas em fevereiro de 2019 com um preço de US $ 400 com o filtro ND ou US $ 300 com o filtro de polarizador circular.

O Canon EL-100 Speedlite já está sendo comercializado por US $ 200.

A objetiva RF 50mm f / 1.2L custa US $ 2.299 . A RF 35mm f / 1.8 IS Macro, RF 24-105 mm f / 4L IS e RF 28-70mm f / 2L começarão a ser entregues às lojas em dezembro de 2018 com de preços de US $ 499, US $ 1.099 e US $ 2.999, respectivamente.

Tradução livre: Andreia Bueno

domingo, 4 de novembro de 2018

A MANIPULAÇÃO DE IMAGENS ANTES DA ERA DAS FAKE NEWS

Em nosso curso de fotografia em BH, estamos sempre estimulando os alunos a ampliarem seu repertório cultural, a fim de que possam enriquecer a criação de suas imagens.
Assim, iniciamos hoje, uma série de publicações, abordando fotos memoráveis, seus contextos e autores.

Neste texto, vamos explorar uma das fotos mais icônicas da história - A Bandeira Vermelha sobre o Reichstag.
Em tempos de uma enxurrada de fake news, poderíamos pensar que a internet e o Photoshop seriam, em boa parte, responsáveis.

Mas a manipulação de imagens não é procedimento recente – antes do surgimento da fotografia digital e dos softwares de edição e tratamento, delicadas técnicas manuais eram utilizadas para que a fotografia servisse aos objetivos do fotógrafo e da mídia. Uma das mais famosas imagens da tomada de Berlim pelos soldados soviéticos,durante a Segunda Grande Guerra feita pelo fotógrafo Yevgeny Khaldei, é a confirmação.

"A Bandeira Vermelha sobre o Reichstag" - Yevgeny Khaldei


Muitas vezes chamado de “Robert Capa Russo”, o fotógrafo ucraniano Yevgeny Khaldei (1917 – 1997) trabalhou para a Agência de Telégrafos da União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial e suas poderosas imagens do avanço do Exército Vermelho, através dos campos de batalha europeus, ajudaram a consagrá-lo como o mais famoso fotógrafo de guerra da Rússia. Sua imagem dos soldados soviéticos hasteando a bandeira nacional no alto do Reichstag em ruínas, comemora o momento em que as forças soviéticas tomaram o prédio, em 30 de Abril de 1945, durante a Batalha de Berlim.


Apesar da imensa repercussão e do peso histórico atribuído à imagem, ela não é – literalmente – expressão da realidade. A cena foi produzida por Khaldei na manhã do dia 02 de Maio de 1945, dias após o acontecimento. Como ninguém havia fotografado o hasteamento da bandeira, o fotógrafo identificou a oportunidade de criar uma obra prima, possivelmente, comparável à “A Old Glory” de Joe Rosenthal, feita naquele mesmo ano.

"A Old Glory" - Joe Rosenthal

Yevgeny Khaldei almejava mais do que criar uma foto famosa, icônica, para alimentar sua fama – comunista assumido e fiel à sua terra natal, percebeu o peso e o apelo dramático, que aquela imagem teria para seu de seu povo: ela era a verdadeira representação da esmagadora vitória da União Soviética sobre os nazistas. Aquela fotografia, distribuída, divulgada e vista por milhares de pessoas, era a vingança de mais de 30 milhões de combatentes, que perderam suas vidas na Frente Oriental.

Na verdade, o comandante nazista havia se rendido poucas horas antes de Khaldei reconstruir o instante da vitória, tendo subido no edifício, acompanhado de alguns companheiros, com sua Leica – o fotógrafo usou um único rolo de filme, expôs 36 fotogramas e editou as imagens várias vezes, buscando a dramaticidade e a narrativa, que com certeza, agradaria os censores soviéticos.

Quando a foto foi impressa pela primeira vez na revista sindical "Ogonjok" em 13 de maio de 1945, houve a manipulação de um detalhe na foto: na verdade, o soldado do Exército Vermelho, que estava apoiando os companheiros, usava dois relógios, sendo um em cada braço. A história aponta que os relógios tinham um significado especial para os soviéticos, como se fossem troféus - sobreviventes relatam que, quando o Exército Vermelho tomou Berlim, exigia aos alemães: "Uri, uri!" ("Relógios, relógios!"). Conclui-se, que o relógio extra havia sido roubado dos alemães e não seria de bom tom para a imagem soviética, expor um soldado usando artigos roubados. A manipulação também tinha a intenção de proteger o soldado da ira de Stalin, que era contra a pilhagem.

Khaldei admitiu mais tarde, que arranhou um dos negativos, fazendo desaparecer o relógio do braço direito do “soldado”, com uma agulha.
Primeira foto da série "A Bandeira Vermelha sobre o Reichstag" publicada - Yevgeny Khaldei


Foi depois, divulgada uma nova versão da foto, onde nuvens escuras de fumaça aparecem no céu, levando os espectadores a pensar, que a imagem havia sido captada logo após a vitória dos soviéticos. Na última versão, uma nova bandeira aparece, agitando-se dramaticamente, ao vento. 

Pelo menos três outros fotógrafos militares soviéticos tenham fotografado soldados com bandeiras em 1 e 2 de maio de 1945 no Reichstag, a imagem de Khaldei prevaleceu. Mais tarde, numa entrevista, quando questionado sobre as manipulações, ele apenas respondeu: "É uma boa foto e historicamente significativa. A próxima pergunta, por favor”.

Embora as imagens de Khaldei tenham sido muito elogiadas na época, foram publicadas sem créditos.
Apenas após a queda do Muro de Berlim, o crédito de autor e o reconhecimento lhe foram dados.

Três anos depois de voltar da guerra, em 1948, Khaldei foi demitido da Tass, vítima de uma das periódicas ondas de anti-semitismo, que varriam os órgãos oficiais soviéticos. Mais tarde, passou a integrar a equipe do Pravda, o jornal do Partido Comunista, para ser novamente despedido, novamente por ser judeu, em 1972. Desde então, sobreviveu como pôde, sempre fotografando, até 1991, quando afinal se aposentou, já na Rússia pós-comunismo.

Khaldei viveu em um apartamento no 6º andar de um prédio simples em Moscou, em que o único cômodo servia de sala, quarto, escritório, laboratório e arquivo de negativos de sessenta anos de fotografia.
Yevgeny Khaldei faleceu em Moscou, em 6 de outubro de 1997, aos 80 anos.



A BANDEIRA FALSA, O RELÓGIO ESCONDIDO, AS NUVENS INVENTADAS 


A Fumaça – Duas colunas de fumaça ao fundo da cena sugerem, que a sangrenta Batalha de Berlim ainda estava ocorrendo no momento da foto. Na imagem original, a fumaça vista à distância é bem fraca. Khaldei editou a imagem copiando a fumaça de outra tomada, para aumentar a dramaticidade. 

O Reichstag – O edifício do século XIX foi importante na história alemã como sede do parlamento, tendo sido usado no Terceiro Reich com finalidades de propaganda e militares. 

Os Soldados – Em 13 de Maio, quando a imagem foi publicada, foi divulgado que os soldados eram Mikhail Yegorov e – para fazer a felicidade de Stalin, que havia nascido na Georgia – um georgiano chamado Meliton Kantaria. Depois do fim da Guerra Fria, veio à tona que o homem hasteando a bandeira era, na verdade, um ucraniano, Alyosha Kovalyov. 

A Bandeira – Khaldei pretendia criar uma imagem icônica, mas não tinha uma bandeira. Persitindo na ideia, voou até Moscou onde conseguiu três toalhas vermelhas utilizadas em funções oficiais. Passou a noite costurando nelas, a foice e o martelo, antes de voar de volta à Berlim para a foto. 

Os Relógios – durante as batalhas, os relógios tinham um significado especial para os soviéticos. Eles os consideravam como troféus, indicando vitória. A história relata, que quando os soldados vermelhos tomaram Berlim, gritavam “Uri, uri!”, reclamando os relógios dos derrotados. A primeira foto publicada da série mostrava três homens, que representavam os soldados soviéticos comemorando a vitória, hasteando a bandeira – um deles usava dois relógios, um em cada braço, o que indicaria o roubo de pelo menos, um. Khaldei, protegendo a imagem dos soldados soviéticos, apagou um deles no negativo, usando uma agulha.


Novembro . 2018




segunda-feira, 29 de outubro de 2018

NOVA VERSÃO DO PHOTOSHOP 2019 TRAZ ERROS NOS MODOS DE MESCLAGEM



Os usuários do Photoshop CC devem ter cuidado com a atualização 2019 – ela ainda precisa de correções..

Com a última atualização, feita na terceira semana de Outubro, a Adobe lançou também as últimas versões de todos os aplicativos da Creative Cloud, incluindo o mais recente Photoshop (versão 20.0.0).
Daniel Hager, um dos Adobe Photoshop Certified Expert, que vive na Alemanha, afirma que estava inclinado a experimentar a nova versão do software.

“Tive algumas decepções com as estratégias anteriores de atualização da Adobe, mas isso ainda não havia acontecido com nenhuma das versões CC. Como, praticamente, todos os bugs da versão anterior haviam sido corrigidos, o que poderia dar errado?
A resposta – Muito!

O que não funciona no Photoshop CC 2019

É opinião comum, que um dos recursos mais valiosos do Photoshop é o trabalho com camadas e por consequência, o uso dos modos de mesclagem ou “Blending Modes”.

Não conheço um único usuário, que não dependa desses recursos, não importa em que campo você esteja trabalhando - você precisa dessas funcionalidades!

O Bug do Modo de Mistura do Photoshop CC 2019

Não tenho uma visão técnica exata sobre o que está acontecendo, mas posso dizer que muitos dos modos de mesclagem não estão funcionando corretamente, o que é mais evidente nos modos de mesclagem Matiz, Saturação, Cor e Luminosidade.

Aqui está um exemplo do que está ocorrendo. A imagem tem uma cor com um modo de mesclagem ativo e como referência, eu tenho a mesma cor que um patch.



Pode-se perceber, claramente, que a cor não é a que deveria ser (na imagem, usei o modo de mesclagem “Matiz”). O tom da cor misturada e a cor da amostra deveriam permanecer as mesmas.

Aqui está um exemplo com a execução correta do modo de mesclagem “Matiz". A cor misturada e a cor de referência deveriam ter as mesmas matizes!



Como corrigir os problemas do modo de mesclagem no Photoshop CC 2019

Pesquisei e não encontrei nenhuma menção da Adobe na lista de bugs conhecidos, mas uma publicação, considerei relevante em relação ao problema. E “voilá”! O problema dos modos de mesclagem podem ser corrigidos!

Para que seus Blend Modes funcionem corretamente, siga o caminho:

. Vá em Preferências > Desempenho e mude para o Legacy Compositing Engine.
Depois de salvar essas alterações, você pode continuar trabalhando sem problemas!

Sei que, às vezes, é enlouquecedor lidar com esses problemas – afinal, nós como usuários, não deveríamos passar por isso.
Penso que temos o direito de não esperar mais 6 meses até que esta versão seja, finalmente, utilizável.

Uma pegunta - qual é o objetivo de lançar software inacabado?"

Fonte: Peta Pixel
Tradução livre: Andreia Bueno
Outubro . 2018

sábado, 29 de setembro de 2018

FOTOGRAFIA COMERCIAL X AUTORAL: UM FALSO PROBLEMA?

O perfil de instagram @insta_repeat possui 133 publicações. Até aí, nada demais.
Sua relevância não vem da quantidade de imagens postadas, mas de sua proposta provocadora. Sua autora, identificada como @emmasheffer, usou a plataforma para nos mostrar o quanto as fotos que compartilhamos na internet são semelhantes umas às outras.
As imagens são organizadas em blocos temáticos, que formam mosaicos de fotografias de terceiros que, depois de editadas e repostadas em conjunto, explicitam de maneira chocante a monotonia estética, que reina no Instagram.
Cada conjunto é acompanhado de legendas como: “Insta Hat”, mostrando dezenas de fotos de pessoas de chapéu, fotografadas de costas, todas com o mesmo ângulo. Ou: “drones olhando diretamente para baixo com lago no centro”, mais uma vez, dezenas de fotos muito parecidas. E por ai vai.


A questão da autenticidade na fotografia não é nova.
Desde sua origem em meados do século XIX, fotógrafos, cientistas e artistas de várias vertentes têm debatido as diferentes dimensões das imagens fotográficas e, sobretudo, o papel do fotógrafo como autor das imagens produzidas.
Para muitos, a fotografia não poderia ser considerada uma forma de arte pois, diferentemente dos pintores, as imagens criadas pela máquina eram “imagens técnicas”, frutos diretos de processos físico-químicos que se produziam “sem a interferência humana”. Nessa vertente, o interesse pela fotografia vinha de sua potencialidade científica.

Por meio das máquinas, foi possível pela primeira vez promover estudos detalhados sobre o movimento de animais e humanos, como nas obras de Eadwerard Muybridge e Etienne-Jules Marey, ou analisar em detalhes os caracteres fenotípicos dos diferentes tipos humanos, como em Alphonse Bertillon e Maurice Vidal Portmann, entre outros.
A fotografia, encarada como imagem técnica, trazia outra novidade.
Seu caráter científico lhe dava uma aura de realismo numa dimensão inatingível pelos pintores de então. Por mais naturalistas que fossem as pinturas do neoclassicismo do século XIX, elas eram sempre criações subjetivas de seus autores, que interpretavam a realidade segundo sua vontade.
Apenas a fotografia científica era capaz de documentar o mundo objetivamente, ou seja, a documentação fotográfica mostrava o real como nunca havia sido possível, permitindo inclusive seu uso como prova em processos judiciais.



Contra essa vertente surgiu, já em 1880, um movimento conhecido por Pictorialismo, que pleiteava o status de arte para a fotografia, negando o caráter puramente técnico das imagens fotográficas. Na batalha por reconhecimento no mundo das artes, fotógrafos como Alfred Stieglitz, Henry Peach Robinson, Edward Steichen, Clarance White além de muitos outros, produziram imagens manipuladas em laboratório, que buscavam imitar a estética das pinturas.


Na virada do século XX o debate sobre o estatuto artístico da fotografia já se libertava da estética pictórica e alçava vôo amparado pelo aprimoramento da técnica.
Grandes nomes como Ansel Adams, Paul Strand e Edward Weston apostaram na excelência técnica, usando câmeras de grande formato e definição apurada, além de desenvolverem novas metodologias para a produção do que ficou conhecido como “Fotografia Direta”. A obra de Weston intitulada “Nautilus Shell”, de 1927, foi leiloada em 2010 por mais de um milhão de dólares.
Enfim, após cerca de 80 anos o mercado da arte reconheceu a genialidade de seu autor!
Mas afinal, o que tudo isso tem a ver com fotografia comercial? Eu diria, tudo a ver!
Um dos principais desafios dos (das) fotógrafos (as) iniciantes é descobrir o tal “estilo pessoal”. Apresentado como a pedra filosofal do sucesso na fotografia, essa tal marca autoral parece uma miragem inalcançável, um enigma hermético acessível apenas aos iniciados.
Muitas vezes acabamos nos rendendo a padrões estéticos que fazem sucesso e relegamos a questão da autoria para os fotógrafos “de galeria”. Mas da mesma forma que as imagens postadas pelo @insta_repeat, os ensaios da chamada “fotografia social” acabam muitas se tornando repetitivos, esteticamente monótonos e desinteressantes. Em geral, o termômetro do sucesso tem sido o número de seguidores nas redes sociais, que transformam alguns poucos profissionais em ídolos de uma legião de fotógrafos, que muitas vezes dominam a técnica fotográfica, mas não conseguem desenvolver uma linguagem própria ou uma marca pessoal.

Como fazer então para não cairmos na armadilha da cópia?
Qual o caminho para fazer diferença em um oceano infinito de imagens semelhantes?

Do meu ponto de vista, a única forma é um trabalho árduo de aprendizado, de evolução pessoal e de educação visual.

Se você procura um atalho, esqueça.
Não acredito em “cinco dicas para desenvolver seu estilo pessoal”.
O amadurecimento estético vai muito além de voar pelos perfis de sucesso na internet.

Como inúmeros autores já disseram, apenas o estudo da história dos grandes fotógrafos, a leitura de textos teóricos e o exame exaustivo de imagens significativas pode fazer com que cada um de nós descubra dentro de si uma forma especial de olhar e ver o mundo.
Certa vez me disseram, “não compre equipamentos, compre livros!”.
Por mais exagerado que isso possa parecer, a fotografia, como diria Cartier-Bresson, é fruto do alinhamento entre o olho, a mente e o coração. Se acreditamos mesmo que as fotografias não são produzidas pela máquina, mas pelo fotógrafo, as imagens que produzimos são reflexos de nós mesmos em conexão com o mundo em que vivemos. Por isso, novas dimensões para os ensaios de “life style” se escondem nos trabalhos clássicos de documentação da vida cotidiana.

Há um universo a ser descoberto na história da arte para enriquecer os ensaios de casamento. Produtos podem ser encantados pelas experiências estéticas de artistas consagrados. A fotografia, como a alquimia, pode ser um meio para evoluirmos junto com as imagens que produzimos, seja para a apreciação em galerias, seja para levar a felicidade a um jovem casal que se lança na aventura do matrimônio.

Imagens:

1. Pagina @insta_repeat
2. Eadwerard Muybridge
3. Maurice Vidal Portmann
4. Edward Steichen
5. Edward Weston

Setembro . 2018

terça-feira, 25 de setembro de 2018

UM PROJETO FOTOGRÁFICO PARA APOIAR O TERCEIRO GÊNERO . OS HIJRAS

Chame-me de Heena: Hijra, O Terceiro Gênero

Um profundo relato, feito pela fotógrafa Sharhia Sharmin desde 2012, sobre um grupo único de pessoas – fora das noções ocidentais de gênero – que tentam encontrar seu lugar no mundo.


“Eu me sinto como uma sereia. Meu corpo me diz que sou um homem, mas minha alma me diz que sou uma mulher. Eu sou como uma flor, uma flor feita de papel. Eu sempre serei amado à distância, nunca serei tocado e não haverá nenhum perfume, pelo qual se apaixonar”, diz Heena, 51 anos, de Dhaka, Bangladesh, em 2012.

"Hijra" é um termo do sul da Ásia, que não tem correspondência exata na moderna taxonomia ocidental de gênero, designada como masculina ao nascimento, com identidade de gênero feminina e que, eventualmente, adota papéis femininos.




 Eles são, muitas vezes e grosseiramente, rotulados na literatura como hermafroditas, eunucos, transgêneros ou mulheres transexuais. Atualmente, usa-se um termo social mais adequado - o “Terceiro Gênero”. 

Transcendendo a definição biológica, os hijras são um fenômeno social, fazendo parte de um grupo minoritário, e têm um longo registro histórico no sul da Ásia. No entanto, sua aceitação social e as condições atuais de vida variam, significativamente, em países como Bangladesh, Índia e Paquistão. Talvez os Hijras de Bangladesh enfrentem a pior situação, o que obriga boa parte deles a deixar sua pátria e migrar para a Índia.

Embora tenham suas próprias origens familiares e sociais, os Hijras experimentam um verdadeiro sentimento de pertencimento, quando estão em seu próprio grupo - os Hijras. Esses grupos oferecem a eles o abrigo natural de uma família e o calor do relacionamento humano. Fora do grupo, são discriminados e desprezados em quase toda parte.




Tradicionalmente, esses indivíduos ganhavam a vida com base na crença cultural de que os Hijras tinham o poder de abençoar a casa das pessoas com prosperidade e fertilidade. Em virtude da história geográfica e cultural compartilhada com o subcontinente, essa crença hinduísta ganhou, aos poucos, espaço na entre os muçulmanos, que habitavam aquela terra. Os tempos mudaram e os Hijras perderam seu espaço privilegiado na sociedade. Atuamente ganham a vida andando pelas ruas pedindo dinheiro a lojistas, passageiros de ônibus e trens ou através da prostituição.

Eu, como quase todos que fazem parte do meu círculo social, cresci vendo os Hijras como pessoas “menores”, como sub-humanos - seus hábitos, modo de vida e até mesmo sua aparência, os definiam como “diferentes”, “desviados” , como se fossem o testemunho vivo de uma aberração biológica. Então, conheci Heena, que me mostrou como eu estava errado. Ela contou sobre sua vida, me fez parte de seu mundo e me ajudou a ver algo além da palavra “Hijra”. Ela me fez entender - ela e outros membros de sua comunidade, como mães, filhas, amigos e amantes - quem são de verdade.

No mundo de hoje, os hijras dificilmente têm a oportunidade de uma vida normal. Eles não têm escolas onde estudar, nenhum templo para orar, nenhum governo e organizações privadas, que queiram vê-los em sua lista de funcionários. Eles não têm acesso a sistemas legais e os provedores de serviços de saúde, não os recebem.

Eu comecei este projeto autofinanciado e em andamento, no início de julho de 2012. Meu trabalho conquistou os corações e a confiança de muitos Hijras, o que espero ser evidente em meu ensaio fotográfico. Para contar a história completa, o trabalho deve continuar.

Através do meu trabalho, espero dar voz aos “sem voz”. A fotografia sempre foi uma ferramenta extremamente eficaz ao desafiar o estigma social e ajudar a revelar uma realidade diferente para o mundo. Espero que meu trabalho ajude os Hijras a encontrar um espaço para respirar em uma sociedade claustrofóbica como a nossa e a encontrar novos amigos em seu mundo sem amigos.

Fotografias e texto de Shahria Sharmin

Tradução livre - Andreia Bueno
Setembro . 2018