O fundo ou planos posteriores têm enorme importância na fotografia, tanto na percepção do observador, quanto na estética e na narrativa - há aí, uma ligação íntima com os fundamentos da Gestalt.
O próprio fluxo de leitura da imagem se beneficia de um fundo bem escolhido, que vai depender da intenção do fotógrafo.
Muitos fotógrafos principiantes tendem a se concentrar apenas, no que a cena oferece em primeiro plano, sem dar atenção aos elementos que compõe o fundo – mas este, tanto pode valorizar o primeiro plano, como entrar em choque com ele e arruinar a foto.
Nessa foto de Bresson, os planos posteriores têm, cada um, sua própria narrativa e um papel fundamental no discurso global da foto, enriquecendo-a e localizando-a geograficamente. Além disso, a presença da Torre Eiffel carrega uma simbologia muito própria e sedutora.
A interferência prejudicial do fundo ocorre, principalmente, quando:
. Cria composições bizarras com o primeiro plano.
. Suas formas entram em conflito com as do primeiro plano.
. Apresenta luzes ou cores inadequadas
COMPOSIÇÕES BIZARRAS
Nessa foto de Tony Evans, ocorre a "soldagem" da chaminé com a cabeça do sujeito, criando uma composição bizarra, o que poderia ser evitado com a alteração do ângulo de tomada.
Às vezes, a justaposição entre o primeiro plano e o fundo cria, acidentalmente, algumas composições estranhas.
Em virtude do ângulo de tomada escolhido ao se fazer a foto, ocorre um fenômeno designado como “soldagem” – a ilusão que se tem, é que o poste ou a chaminé do fundo estão implantados sobre a cabeça do sujeito em primeiro plano ou, que os galhos da árvore, nascem de dentro de suas orelhas.
É fácil deixar escapar detalhes como esses quando se olha pelo visor.
Por isso, é fundamental verificar antes, como os planos se compõem e mover a câmera para evitar eventuais "soldagens".
FUNDO CONFLITANTE
Nessa foto, cuja fonte é a National Geographic, o centro de interesse está num fundo repleto tons, cores, linhas, planos, o que demanda maior atenção do observador, para compreensão do assunto. Além disso, o maior ponto de contraste de luz está na folha à esquerda inferior, "roubando" a atenção do restante.
Planos posteriores confusos, com excesso de informações visuais, elementos não previstos e indesejados podem aparecer por acaso nas fotos e entrar em choque com os elementos do primeiro plano, diluindo a nitidez de seus contornos ou chamando demais a atenção sobre si mesmos, bloqueando o fluxo de leitura da imagem.
Frequentemente, o fundo conflitante faz com que a mensagem da fotografia seja truncada e os observadores não saberão qual é o assunto da imagem, o que causa desconforto.
Esses problemas podem ser resolvidos rearranjando-se o fundo ou modificando a posição do objeto ou sujeito fotografados.
Entretanto, há casos em que é impossível alterar qualquer elemento da cena - por exemplo, no fotojornalismo ou na fotografia de arquitetura.
Nesses casos, é preciso lançar mão de um grande trunfo do fotógrafo: o poder do ângulo de tomada.
Além disso, alterando o ângulo de tomada, o fotógrafo pode obter uma melhor distribuição de tonalidades.
LUZES E CORES INTRUSAS
Nas duas fotos acima, é possível observador através de comparação, como a figura amarela (bastante brilhante em relação ao restante da imagem) "rouba" a atenção do observador e bloqueia o fluxo de leitura, apesar de desfocada, em virtude do uso de uma profundidade de campo reduzida.
Outra forma de minimizar o problema é utilizar uma profundidade de campo reduzida, desfocando o fundo.
Esses problemas devem ser identificados antes da fotografia.
Tenha em mente, que o fundo e os planos posteriores têm imensa importância na imagem e que sua escolha vai depender da intenção do fotógrafo e é ela, que vai definir a forma de abordagem.
É preciso optar de forma consciente, buscando o resultado desejado e evitando "acidentes".
Assim como Dave Lachapelle, que usa a "profusão" de informações visuais - tanto no primeiro, quanto nos planos posteriores, com maestria.
Dave Lachapelle
Andreia Bueno
Escola de Fotografia Studio3 Sesiminas
Maio . 2016