Sua relevância não vem da quantidade de imagens postadas, mas de sua proposta provocadora. Sua autora, identificada como @emmasheffer, usou a plataforma para nos mostrar o quanto as fotos que compartilhamos na internet são semelhantes umas às outras.
As imagens são organizadas em blocos temáticos, que formam mosaicos de fotografias de terceiros que, depois de editadas e repostadas em conjunto, explicitam de maneira chocante a monotonia estética, que reina no Instagram.
Cada conjunto é acompanhado de legendas como: “Insta Hat”, mostrando dezenas de fotos de pessoas de chapéu, fotografadas de costas, todas com o mesmo ângulo. Ou: “drones olhando diretamente para baixo com lago no centro”, mais uma vez, dezenas de fotos muito parecidas. E por ai vai.
Desde sua origem em meados do século XIX, fotógrafos, cientistas e artistas de várias vertentes têm debatido as diferentes dimensões das imagens fotográficas e, sobretudo, o papel do fotógrafo como autor das imagens produzidas.
Para muitos, a fotografia não poderia ser considerada uma forma de arte pois, diferentemente dos pintores, as imagens criadas pela máquina eram “imagens técnicas”, frutos diretos de processos físico-químicos que se produziam “sem a interferência humana”. Nessa vertente, o interesse pela fotografia vinha de sua potencialidade científica.
Por meio das máquinas, foi possível pela primeira vez promover estudos detalhados sobre o movimento de animais e humanos, como nas obras de Eadwerard Muybridge e Etienne-Jules Marey, ou analisar em detalhes os caracteres fenotípicos dos diferentes tipos humanos, como em Alphonse Bertillon e Maurice Vidal Portmann, entre outros.
A fotografia, encarada como imagem técnica, trazia outra novidade.
Seu caráter científico lhe dava uma aura de realismo numa dimensão inatingível pelos pintores de então. Por mais naturalistas que fossem as pinturas do neoclassicismo do século XIX, elas eram sempre criações subjetivas de seus autores, que interpretavam a realidade segundo sua vontade.
Apenas a fotografia científica era capaz de documentar o mundo objetivamente, ou seja, a documentação fotográfica mostrava o real como nunca havia sido possível, permitindo inclusive seu uso como prova em processos judiciais.
Grandes nomes como Ansel Adams, Paul Strand e Edward Weston apostaram na excelência técnica, usando câmeras de grande formato e definição apurada, além de desenvolverem novas metodologias para a produção do que ficou conhecido como “Fotografia Direta”. A obra de Weston intitulada “Nautilus Shell”, de 1927, foi leiloada em 2010 por mais de um milhão de dólares.
Enfim, após cerca de 80 anos o mercado da arte reconheceu a genialidade de seu autor!
Mas afinal, o que tudo isso tem a ver com fotografia comercial? Eu diria, tudo a ver!
Um dos principais desafios dos (das) fotógrafos (as) iniciantes é descobrir o tal “estilo pessoal”. Apresentado como a pedra filosofal do sucesso na fotografia, essa tal marca autoral parece uma miragem inalcançável, um enigma hermético acessível apenas aos iniciados.
Muitas vezes acabamos nos rendendo a padrões estéticos que fazem sucesso e relegamos a questão da autoria para os fotógrafos “de galeria”. Mas da mesma forma que as imagens postadas pelo @insta_repeat, os ensaios da chamada “fotografia social” acabam muitas se tornando repetitivos, esteticamente monótonos e desinteressantes. Em geral, o termômetro do sucesso tem sido o número de seguidores nas redes sociais, que transformam alguns poucos profissionais em ídolos de uma legião de fotógrafos, que muitas vezes dominam a técnica fotográfica, mas não conseguem desenvolver uma linguagem própria ou uma marca pessoal.
Como fazer então para não cairmos na armadilha da cópia?
Como fazer então para não cairmos na armadilha da cópia?
Qual o caminho para fazer diferença em um oceano infinito de imagens semelhantes?
Do meu ponto de vista, a única forma é um trabalho árduo de aprendizado, de evolução pessoal e de educação visual.
Se você procura um atalho, esqueça.
Não acredito em “cinco dicas para desenvolver seu estilo pessoal”.
O amadurecimento estético vai muito além de voar pelos perfis de sucesso na internet.
Como inúmeros autores já disseram, apenas o estudo da história dos grandes fotógrafos, a leitura de textos teóricos e o exame exaustivo de imagens significativas pode fazer com que cada um de nós descubra dentro de si uma forma especial de olhar e ver o mundo.
Certa vez me disseram, “não compre equipamentos, compre livros!”.
Por mais exagerado que isso possa parecer, a fotografia, como diria Cartier-Bresson, é fruto do alinhamento entre o olho, a mente e o coração. Se acreditamos mesmo que as fotografias não são produzidas pela máquina, mas pelo fotógrafo, as imagens que produzimos são reflexos de nós mesmos em conexão com o mundo em que vivemos. Por isso, novas dimensões para os ensaios de “life style” se escondem nos trabalhos clássicos de documentação da vida cotidiana.
Há um universo a ser descoberto na história da arte para enriquecer os ensaios de casamento. Produtos podem ser encantados pelas experiências estéticas de artistas consagrados. A fotografia, como a alquimia, pode ser um meio para evoluirmos junto com as imagens que produzimos, seja para a apreciação em galerias, seja para levar a felicidade a um jovem casal que se lança na aventura do matrimônio.
Imagens:
1. Pagina @insta_repeat
2. Eadwerard Muybridge
3. Maurice Vidal Portmann
4. Edward Steichen
5. Edward Weston
Imagens:
1. Pagina @insta_repeat
2. Eadwerard Muybridge
3. Maurice Vidal Portmann
4. Edward Steichen
5. Edward Weston
Setembro . 2018
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