segunda-feira, 10 de setembro de 2012



ARTHUR FELLIG . WEEGEE

UM ÍCONE DA FOTOGRAFIA JORNALÍSTICA

Weegee era o pseudônimo de Arthur Fellig (12 de junho de 1899 - 26 de dezembro de 1968), fotógrafo e fotojornalista, conhecido por suas fotografias de rua, em preto e branco de alto contraste.

Weegee trabalhou no Lower East Side de Nova York como fotojornalista nos anos de 1930 e 40, onde desenvolveu seu estilo, acompanhando os serviços de emergência da cidade e documentando sua atividade.

Grande parte de seu trabalho, permeado pelo realismo, retrata duras cenas urbanas, incluindo crimes, ferimentos e morte. Weegee publicou livros fotográficos, tendo também, trabalhado no cinema, inicialmente, realizando seus próprios curtas-metragens e, posteriormente, colaborando com diretores de cinema, como Jack Donohue e Stanley Kubrick.

Weegee nasceu com o nome de “Ascher (Usher) Fellig” em Lemberg, também conhecida como Lvov, na Áustria, atualmente, Ucrânia. Seu nome foi mudado para Arthur quando emigrou com sua família para Nova York em 1910. Lá, fez vários trabalhos avulsos, incluindo o de fotógrafo itinerante e como assistente de um fotógrafo comercial.

Em 1924, foi contratado como técnico laboratorista pela Acme News Pictures, mais tarde, United Press International Photos, que deixou em 1935, para se tornar fotógrafo freelance.

Trabalhava à noite, competindo com a polícia, ao ser o primeiro a chegar à cena dos crimes, vendendo suas fotos para tablóides e agências fotográficas.

A área onde concentrava seu trabalho fotográfico era em torno de Manhattan, sede da polícia, e suas fotografias foram, logo, publicadas pelos jornais Herald Tribune, World-Telegram, Daily News, New York Post, New York Journal American, Sune, entre outros.

Em 1957, após ser acometido de diabetes, mudou-se para a casa de Wilma Wilcox, uma assistente social, sua amiga desde 1940, que cuidou dele, e depois, de seu trabalho.

Weegee fez várias viagens à Europa, até 1968, trabalhando para o Daily Mirror , realizando vários filmes, fotografias, palestras e projetos de livros.

Em 26 de Dezembro de 1968,morreu em Nova York, com 69 anos.

Weegee





Fellig ganhou o codinome Weegee, uma tradução fonética de Ouija, em virtude de suas, frequentes, chegadas às cenas dos crimes, incêndios e outras emergências, poucos minutos após ocorridas, o que era considerado, aparentemente, como premonição.

O responsável pelo apelido não tem origem certa – existem publicações que atribuem a ele próprio, o codinome e em outras, verifica-se a polícia de Manhattan ou seus colegas da Acme News Picture, como criadores.

Técnica Fotográfica
Algumas fotografias, como as sobreposições de grandes damas da sociedade, envoltas em arminhos e tiaras e figuras cruas, urbanas, de mulheres no Metropolitan Opera (The Critic, 1943), revelaram-se cenas memoráveis.


Weegee usava, normalmente, uma camera comum entre os fotojornalistas, a Speed Graphic, em formato 4×5 polegadas e flash automático. Tinha pouco conhecimento e interesse na fotografia, puramente, artística, sendo que nem suas composições, nem seus prints eram feitos com cuidado, na primeira fase de seu trabalho - revelava seus negativos em uma câmara escura caseira, montada na parte traseira de seu carro. Esse processo gerava resultado instantâneo, o que reforçava o conceito da indústria dos tablóides - notícia“quente”, hoje, o just in time.

A ingenuidade artística de Weegee é demonstrada pelo único termo, que adaptou da arte: "Rembrandt Lighting”. Utilizando esse termo, descreveu o uso do fundo escuro, com o sujeito iluminado por uma luz brilhante – a seleção tonal foi, automaticamente, conseguida com o uso do flash.

Essa luz foi a chave para o efeito impactante de suas fotografias. Ele afirmava que, através desse efeito, podia transformar uma cena horrível, numa imagem menos desagradável e ao mesmo tempo, fornecer detalhes de alto contraste suficientes, para ajudar o editor a vender, mesmo quando reproduzidas nos meios-tons dos jornais.

Weegee fez, também, muitas fotografias noturnas usando flash infravermelho, o que lhe permitiu registrar, voyeuristicamente, cenas como amantes em cinemas ou em bancos de parques. Com filme infravermelho e flash ele, ainda, fotografou a alta-sociedade na noite - essa iluminação transformava a maquiagem das mulheres em pinturas extravagantes, enfatizava suas veias faciais e desaparecia com as restaurações dentárias, nos sorrisos das classes privilegiadas de Nova York.

Weegee pode ser considerado como a versão americana de Brassaï, que fotografou cenas noturnas de rua em Paris.

Os temas abordados por Weegee - nudistas, artistas de circo, freaks e pessoas da rua – foram depois, retomados e desenvolvidos por Diane Arbus no início de 1960.

Em 1938, Fellig foi o único fotojornalista de Nova York, com licença para portar um radio de ondas curtas, sintonizado com o canal da polícia local.

Weegee trabalhou, principalmente, em casas noturnas, onde ouvia,atentamente,informações e muitas vezes, chegava aos locais dos acontecimentos, ao mesmo tempo que as autoridades.

Em 1943, cinco de suas fotografias, foram adquiridas pelo Museu de Arte Moderna. Estas obras foram incluídas na exposição “Action Photography”.

Foi incluído, tardiamente, na " 50 Photographs by 50 Photographers”, outra mostra do MOMA, organizada pelo fotógrafo Edward Steichen.

Lecionou na New School for Social Research. 

Seguindo sua trajetória, Weegee trabalhou com fotografia publicitária e em editoriais para revistas, incluindo a Vogue, em 1945.



Naked City (1945) foi o seu primeiro livro de fotografias.

O produtor de cinema, Mark Hellinger, comprou os direitos do livro.

Em 1948, foi construída a sinopse para o filme de Hellinger, “The Naked City”, baseado na história escrita por Malvin Wald, sobre a investigação do assassinato de uma modelo em Nova York. Wald foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro, co-escrito por McCarthy Albert Maltz.

Mais tarde, a historia foi, novamente, utilizada por uma série policial de televisão e, em 1980, o nome foi adotado por uma banda, Naked City, liderada pelo músico novaiorquino, John Zorn.

Weegee experimentou, no início de 1941, o cinema em 16 mm e de 1946 ao início de 1960, trabalhou em Hollywood como ator e consultor de efeitos especiais, sem muito crédito, tendo sido, em contrapartida, um respeitado fotógrafo de still no filme de Stanley Kubrick, de 1964, Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb. Seu sotaque foi uma das influências para a construção do personagem principal do filme, papel desempenhado por Peter Sellers.

Nos anos de 1950 e 60, Weegee aventurou-se pela fotografia panorâmica e incluiu distorções em seus trabalhos. Usando lentes de plástico, fez a famosa fotografia de Marilyn Monroe, em que seu rosto está, grotescamente distorcido, embora reconhecível.

Para o filme de 1950, The Yellow Cab Man, Weegee contribuiu com uma interessante, sequencia, em que o movimento do automóvel está angularmente, distorcido - na lista de créditos do filme, seu nome aparece como “Luigi”.

Em 1960, fez várias viagens à Europa, onde fotografou nus. Em Londres, tornou-se amigo de Harrison Marks, um ator de filmes pornô e da modelo Pamela Green, com quem fez trabalhos fotográficos.

Em 1966, dois anos antes de sua morte, Weegee protagonizou “The 'Imp'probable Mr. Wee Gee” - do qual publico, nesse mesmo post, um trecho - um pseudo-documentário, sem pretensões artísticas, que tinha como tema, sua própria vida – nele, Fellig se apaixona por um manequim de vitrine em Londres, tem encontros com um belo fantasma, numa casa mal-assombrada e termina em Paris, tudo isso, enquanto perseguia e fotografava várias mulheres.


Em 1980, a viúva de Weegee, Wilma Wilcox, juntamente com Sidney Kaplan, Aaron Rose e Larry Prata formaram o “The Weegee Portfolio Incorporated” com a finalidade de criar uma coleção exclusiva de prints fotográficos, feitos a partir de negativos originais de Weegee.

Como herdeira, Wilma Wilcox doou todo o arquivo de Weegee - 16.000 fotografias e 7.000 negativos - para o Centro Internacional de Fotografia, em Nova York.
Esse acervo, criado em 1993, tornou-se fonte para várias exposições e livros, incluindo "Weegee’s World" editado por Miles Barth (1997) e " Unknown Weegee " editado por Cynthia Young (2006).




A primeira e grande exposição foi de 329 imagens - "O Mundo de Weegee de: Vida, Morte e Drama Humano," aberta ao público em 1997. Seguiram-se, em 2002, “Weegee’s Trick Photography”, uma mostra de imagens distorcidas e caricaturais e, quatro anos mais tarde, " Unknown Weegee ", que explorou o início de seu trabalho fotográfico, bem como sua produção para os tablóides da época.

Em 2012, o ICP abriu outra exposição, de seus trabalhos, intitulada, "Murder is my Business", uma reedição da de 1941.

O personagem principal de Bernzy, interpretado por Joe Pesci, no filme de 1992 “The Public Eye”, foi, essencialmente, inspirado em Fellig.

O principal antagonista da sexta temporada de X-Files, "Tithonus" chamava-se Alfred Fellig - um fotógrafo que registrava acidentes, imediatamente, após o ocorrido, tomando conhecimento deles, através de uma conexão sobrenatural com a morte.


CRONOLOGIA

1899 – Nasce Usher Fellig, em 12 de junho, em Lemberg, também conhecida como Lvov, na Áustria, atualmente, Ucrânia. Filho de Rachel e Bernard Fellig, Weegee foi o segundo dos sete filhos. Os quatro primeiros, Elias (1897), Usher, Rachel, e Phillip, nasceram em Lemberg. Os três irmãos mais jovens, Molly, Jack, e Yetta, nasceram nos Estados Unidos.

1906 - Bernard Fellig deixa a Europa e vai para os Estados Unidos.

1910 – O restante da família chega a Nova York e se instala em Manhattan. O nome de Usher é alterado para Arthur , logo na chegada. Bernard Fellig tinha estudado para se tornar um rabino na Áustria. No entanto, na América, ganhava a vida como vendedor ambulante, uma fonte de renda comum para os novos imigrantes. Ele e sua esposa, ainda, trabalhavam como faxineiros em um edifício de apartamentos em troca de aluguel. Fellig sempre manteve um forte compromisso com o judaísmo, guardando o sábado, mesmo arriscando a renda da família. Mais tarde, Bernard Fellig completou seus estudos religiosos e tornou-se um rabino.

1913 - Weegee (ele continuará a ser conhecido como Arthur nas próximas duas décadas) toma a decisão de deixar a escola para ajudar no sustento da família. Seu primeiro emprego foi como fotógrafo, utilizando a ferrotipia. Meses depois, Weegee começou a auxiliar um fotógrafo comercial. Após vários anos de trabalho cansativo tedioso, deixou-o para trabalhar como retratista de rua. Equipado com um pônei, Weegee fotografava crianças do Low East Side nos finais de semana, e fazia provas de contacto durante a semana. No entanto, esse trabalho teve curta duração, em virtude das despesas advindas dos cuidados com o pônei.

1917- Com o fim de seu trabalho como retratista de crianças, Weegee decidiu sair da casa de sua família – tinha 18 anos e buscava liberdade, longe da rigidez de seus pais. Durante algum tempo, Weegee morou nas ruas,encontrando abrigo em missões, parques públicos e na estação da estrada de ferro da Pensilvânia. Por vários anos, ele realizou uma série de trabalhos, incluindo o de garçom, lavador de pratos, diarista, misturador de doces e biscoiteiro. Durante todo esse tempo, continuou a procurar trabalho em estudios fotográficos.
1918 - Weegee encontra emprego no Ducket & Adler Photography Studio, na Grand Street, em Lower Manhattan, onde realizava vários trabalhos no estudio e no laboratório.

1921- Dedicado, consegue emprego como ajudante nos laboratórios do The New York Times e em sua agência, a Wide World Photos. Este trabalho durou, pelo menos, dois anos.

1924-1927 – Ingressa na Acme News Pictures (mais tarde, incorporada pela United Press International), como técnico de laboratório e impressão. Na Acme, inicia seu trabalho como fotojornalista.

1934 - Aluga um apartamento de um quarto no 5 Center Market Place, onde vive até 1947.

1935 – Deixa a Acme para iniciar a carreira como freelance. Seu trabalho era concentrado em torno da sede da polícia de Manhattan. Fotografias publicadas pelo Herald Tribune, World-Telegram, Daily News, Post, Journal-American, Sun entre outros.Começa o período de trabalho mais significativo de Weegee, produzido em Nova York, entre 1935 e 1947.


1938 - Obtém permissão para instalar um rádio da polícia em seu carro. Nesse período, adota definitivamente, o codinome de Weegee.

1940 - É conferida a ele, pelo jornal vespertino PM, liberdade para criar foto-histórias de sua própria escolha ou aceitar pautas dos editores do jornal.


1941 – A exposição "Weegee: Murder is My Business” abre na Photo League, Nova York. Weegee começa a experimentar uma câmera de filme 16 mm.


1943 – Cinco de suas fotografias são adquiridas pelo Museu de Arte Moderna de Nova York, que as inclui em sua exposição " Action Photography ".


1945 - Publicação de Naked City - New York: Duell, Sloan & Pearce; Essential Books- o primeiro livro de fotografias de Weegee, que acompanha a turnê de divulgação nacional. Começa a fotografar para a Vogue.


1946 - Publicação de "Weegee's People - New York: Duell, Sloan & Pearce; Essential Books". Dá palestras na New School for Social Research, de Nova York. Weegee vende os direitos sobre seu livro, Naked City, a Mark Hellinger, para a produção de um filme em Hollywood.


1947 - Casa-se com Margaret Atwood e, no final do ano, deixa Nova York, rumo a Hollywood , a fim de atuar como consultor na versão cinematográfica de Naked City. Durante os anos seguintes, trabalhou como consultor técnico em filmes e como ator em filmes menores. Começou, ainda, a experimentar grande variedade de lentes e outros dispositivos, para dar início a criação de sua série fotográfica "Distorção".

1948 - Lançamento de “The Naked City” pela Universal Pictures.
Weegee aparece, pela primeira vez no filme, " Every Girl Should Be Married."
Seu próprio e primeiro filme “ Weegee's New York” - preto e branco, 16mm - é concluído. Seu trabalho é representado na exposição "50 Photographs by 50 Photographers", organizada por Edward Steichen, no Museu de Arte Moderna de Nova York.

1949 - Weegee e Margaret Atwood separam-se e divorciam-se um ano depois.

1950 - Produz o filme Cocktail Party - 5 minutos, preto e branco, mudo, 16mm.

1952 - Retorna a Nova York, depois de vários anos vivendo e trabalhando em Hollywood. Inicia uma série de retratos distorcidos de celebridades e de figuras políticas, a qual chamaria de “Caricaturas”.

1953 - Publicação de Naked Hollywood por Weegee e Mel Harris - New York: Pellegrini and Cudahy, o primeiro livro em que suas distorções são publicados.
1955 - Seus retratos distorcidos são publicados na edição de julho, da Vogue.

1957 - Diagnosticado com diabetes, Weegee muda-se para West 47th Street, casa da assistente social, Wilma Wilcox, que permanece sua companheira até sua morte.
1958 – Trabalha como consultor no filme de Stanley Kubrick, Dr. Strangelove or: How I Stopped Worrying and Learned to Love the Bomb. Viajou várias vezes à Europa até 1968, trabalhando para o Daily Mirror e em vários filmes, fotografia, palestras e projetos de livros.

1959 – Participa de uma turnê de palestras na URSS, juntamente com várias exposições lá realizadas.
Publicação do Weegee's Creative Camera - Garden City, New York: Hanover House.

1960 - Exposição: "Weegee: Caricatures of the Great ", na Photokina, Colônia, Alemanha Ocidental.

1961 - Publicação de autobiografia, Weegee by Weegee - New York: Ziff-Davis

1962 - Exposição na Photokina, Colônia, Alemanha Ocidental.

1964 - Publicação de "Weegee's Creative Photography" - London: Ward, Lock, and Co.

1965 – Faz o filme The Idiot Box - 5 minutos, preto e branco som 16mm.
1968 - Weegee morre em Nova York, em 26 de dezembro, com a idade de 69 anos.  
 
 

Weegee . Um Ícone da Fotografia Mundial - Video de seus trabalhos fotográficos

Weegee The American History_ICP_Release "Murder is My Busness" - release da Exposição "Murder is my Business", em 2012, no ICP (em Inglês)


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